O dia em que broxei
Esse com certeza é um dos assuntos que mais frustram e envergonham os homens. Mas, para mim é normal, como todas as coisas que afligem os fracos. Sempre me sentir o cara, o furador, aquele que invade sem dor, com sua lança a perfurar o inimigo. Nós, os homens, somos sem dúvidas guiados pela cabeça de baixo, embora sem conhecimento haja outras cabeças. Recordo-me que quando criança cuidava de meu brinquedo, como se eu já fosse programado para saber que ele seria muito útil para ou em algum momento de minha vida. Naqueles momentos ele é o nosso amigo, o nosso tesouro. Às vezes, com a inocência e a curiosidade de criança, pegava e notava que algumas alterações aconteciam, ficava atônito e ao mesmo tempo curioso para ir além daquilo, mas os freios, aqueles que minha mãe me ensinou quando me pegou massageando me impediam. Esses freios, não sabem as mães, mas deixam à massagem muito mais interessante.
Era adolescente, a pior fase que um homem pode passar na vida. Quaisquer pensamentos, com muito azeite e pimenta, levam-nos a correr ao banheiro ou a quaisquer lugares a sós, para a grande aventura. Eu me recordo que meu tio, guardava embaixo de sua cama, muitas revistas. Sua coleção chegava a cansar os olhos. Sempre olhei sem ele saber. Quando chegava da escola, fingia estudar, e entres as paginas de livros de matemática e português, estavam lá aquelas moças peladas, com seus sexos amostra, e aquilo tudo me excitava muito. Lembro-me que passava horas lendo aqueles contos, alguns ainda me lembro, como de uma secretária que era assediada pelo chefe, que a ameaçava de demiti-la, e ela como moça que precisava do emprego, acabava por ceder às opressões do seu chefe. Esse conto com certeza é um clássico no meio pornô.
O tempo foi passando, mas ainda não tinha terminado de ler todos os contos ilustrados, guardado debaixo da cama do meu tio. Falando um pouco de meu tio, ele já era um homem, deveria ter uns trinta e cinco anos. Naquele momento de adolescência, eu não entendia porque ele guardava aquela coleção, ele poderia ter a mulher que quisesse, era um dom Ruan. Sempre admirei meu tio, se tivesse um modelo a ser seguido de masculinidade, ele era o próprio.
Enfim, como todo o homem, me apaixonei. Não sei se pela pessoa, ou pelo que ela representava em meus hormônios. Mas, foi tão intenso, que meu corpo e minha mente duelavam pela prevalência do seu existir. Para minha sorte, não precisei caçar, a caça veio até mim, deixando ser devorada e destroçada. Alias, não tenho do que reclamar ou agora tenho, nunca fiz esforço que um caçador faz, a caça sempre se despoja em meus pés. Nasci com aquela coisa, que poucos homens têm, não sei denominar ao certo, mas alguns dizem charme, outros denominam de atração. Mas a única coisa que sei de fato, é que a presa sente o cheiro e se rende. Como dizem que os homens não amam, então fiz sexo pela primeira vez com minha presa. Recordo-me de ter imaginado que ela fosse minha secretária, e eu o poderoso chefe a ponto de demiti-la. Não vou contar detalhes. Aquela tarde em que nos bebemos, não só o liquido do prazer, pois foi também a primeira vez que provei bebida alcoólica, foi a noite mais prazerosa de minha adolescência. Nesses momentos, nós homens nos sentimos poderosos, e somos.
Ingressei na maturidade. Minha primeira namorada havia virado recordação de infância, e eu me tornei um homem de fato. Cheio de deveres, de consciências, de defeitos, de ética e regras morais. Trabalhava feito um escravo, que meus antepassados foram. E as revistas que outrora, me distraia com seus contos, não faziam mais parte de minha vida. Nessa fase minha vida sexual não era agitada, sonhava demais, pelo que li e vi naqueles contos. Achava tudo aquilo muito real, e queria uma secretária para possuir. Encontrei varias. Mas o meu dom, ao menos eu achava que era um dom quando adolescente, tornou-se uma maldição na minha maturidade. O homem foi programado para caçar, e não ser a presa.
Sei que você deve estar se perguntando, o que tudo isso tem a ver com o titulo desse relato, mas tenha calma, logo você vai entender. Como estava dizendo. Eu comecei a detestar os jogos de caça. Sentia-me perseguido, usado, olhado e morto. Ora, esse é o meu papel. Eu o fazia bem. Foi quando conheci uma presa, que já estava morta há tempos. Hoje eu prefiro ser rejeitado, levar um não, do que insistir na arte da caça com uma frigida. Mas naquele tempo, eu precisava daquilo, alguém enfim que teria de lutar para conquistar. A luta não seria fácil, apesar do meu dom, não quis usá-lo, queria conquistá-la de outra forma. Da forma mais difícil que eu pudesse encontrar.
Continuei no incrível, porém triste caminho da maturação. A morte se aproxima de mim a cada dia. Posso até sentir seu bafo em meu pescoço. Mas continuando. Eu aprendi a gostar da frigida, seus encantos eram tão grande, que ela nem imagina. Aquela boca era para mim a fuga dos meus problemas e remédio até para meus tédios. Beijava, e beijava com gosto. Só que o retorno era sempre ofuscado com seus lábios frios. Então, eu partia para o mais. E sentia que seus lábios esquentavam. Há esperança. E eu não parava, queria dominar minha secretária, sem pensar em demiti-la, mas em amá-la. Os homens amam sim, eu já amei e talvez ame até hoje. Fomos para cama, e percorremos todos os cantos que se é possível percorrer em um corpo, sentir que ela me amava, que me desejava, suas mãos me deixavam louco. Foi então que percebi que meus desejos estavam confusos, e que novamente havia virado a caça, agora vocês podem entender como surgiu o título desse relato.
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Reinaldo Sousa. 19 de fevereiro de 2009.