A grande viagem
Lembro que naquela manhã eu acordei com os sentidos aflorados, era dia de mudanças. Eu podia sentir. Mas, não acreditava muito nisso, pois como sempre, não há nada de diferente dos outros dias. Pois eu coloquei o mesmo pé de sempre no chão, o sol brilhava igual, como a todos os dias de verão. Tudo era igual. Porém, às vezes os pássaros voavam nas palmeiras a beira da minha janela, e cantarolavam mudanças. No entanto, isso nunca foi algo novo, a minha viagem.
Depois de passear os olhos pelo teto, levantei da cama, e fui até o banheiro, lembro-me de ter visto a mesma face de sempre no espelho, incrível, o tédio me acompanhava até mesmo ao banheiro. Logo quando sair do banheiro sentei na cama, olhei para os lençóis, eles como sempre estavam arrumados, como se eu não tivesse deitado minha consciência neles. Naquelas noites, próximas a minha viagem, tive vários pesadelos, pesadelos que foram tão reais, que os meus lençóis deveriam estar destroçados. Deveriam.
No quarto minhas malas, e algumas roupas que decidir deixar para trás, as ganhei no ano passado, me lembrava alguém. Deixava também em cima da escrivaninha o relógio que minha mãe me dera naquele ano de aniversário. Só levaria nessa viagem o necessário, para me recordar de algumas coisas essenciais, foi o que imaginei e estava a fim de fazer. Então, resolvi abrir a mala novamente, olhei as roupas e o tédio me acompanhou. Nada me lembrava nada, então fechei a mala.
As horas passavam como de sempre. Lenta. Tudo em minha volta, e até mesmo os meus gestos pareciam estar letárgico e estavam. Andei pelo quarto, esperando encontrar algo que injetasse adrenalina na minha alma, quando deparei com um porta retrato. Lembro-me de ter olhado por algumas horas para aquele porta retrato. Mas, como sempre não sentia nada. Ou talvez sentir. Não me lembro. Sei que depois de muito olhar, peguei o porta retrato em meus braços e acalentei com músicas salgadas. Agora me lembro. Eu sentir algo. Sofria pelo tédio, pelo invisível, e pelo desconhecido. Chorava olhando para aquele porta retrato, sem saber ao certo o que significava tanta emoção. Só sei que sofri. Até hoje eu não entendo, como podemos sofrer tanto pelo desconhecido.
Havia chegado o momento de ir ao aeroporto, nem me lembro como nele cheguei. Só sei que andei no deserto, noturno dos meus pensamentos e junto minha alma viajou nos sentidos que eu esperava alcançar nessa viagem. Depois de muito viajar nas ausências, é chegado o momento do embarque. Sentei por um momento na cadeira e tentava me lembrar de algo que havia esquecido de trazer comigo. Não conseguir lembrar. Olhei para as pessoas entrando no portão de embarque, pessoas felizes, pessoas sérias, pessoas sós e pessoas, somente homem e mulheres. Lembro também de não ter feito o check-in.
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Dedico esse texto a minha grande amiga, companheira de cinéfilia, Jô Costa, pois a idéia central dele veio de sua fantástica cabeça!
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Reinaldo Sousa. 07 de fevereiro de 2009.
10 comentários:
Parabéns meu amigo, pelo belo conto! Os homens são assim, vivem na expectativa de mudanças e de muitas viagem para além do desconhecido, do vazio. Somos loucos, num hospício para santos! Abração! Fico sempre feliz em ler algo teu. Breve farei um blog para publicar meus lixos mentais.
Reinaldo Esse texto me fez lembrar de uma das nossas conversas, lembro de você já ter falado desse testo comigoa antes! você tá se superando em? abraçusss
Olá, Rei. Adorei! Quando li essas linhas eu me senti familiarizada com elas em muitos momentos. Acho que na vida todos passam momentos que não fazem sentido, vazios. Você soube retratar isso muito bem!
Um texto excepcional... Descrisão, idéia, tudo... Putz, Rei. Realmente a agente viaja lendo os seus texto, man!
abraços
Reinaldo, seu texto me parece a sua cara. Você estar sempre pronto para viajar embora, nunca o faça, pelos medos. Sua cara esse texto! shuashuashua... abraçãoooo
gostei muito do desenvolvimento do texto, e para quem conhece o autor, ele ta ali presente na forma e no conteudo.
rei o ritmo do texto é interessante.
Os homens e suas viagens...
Suas palavras refletem o que sua alma nao quer calar,você escreve muito bem, Parabén e felicidades, viajante...
Reinaldo.
Ótimo conto! me surpreendo a cada texto que leio seu, menino você é bom nisso! rsrsrsrsrs
e esse texto é sem dúvida a cara de nossos projetos, sempre prontos, embora nunca decolem! rsrsrsrsrsrsrs
Abraços
César Neto
Vivemos essa viagem todos os dias.. epgando o ônibos para dirigir ao trabalho...sentado à beira de uma bela paisagem..ao deitar a cabeça no travesseiro..vimemso essa viagem sempre..rebusacando detaçhes físicos, projetando os pessoais e frustrando -o os atitudinais..retonrando á vida reaL...mas, oq que seria de nós se não fosse essas viagens?Excelente Conto meu Rei..bjoks!!!
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