Existem dois em mim.
Um desejo mais que desesperadamente a felicidade, a riqueza,
além de realizar todos os sonhos impossíveis e possíveis para um homem.
O outro quer apenas o comum,
o obvio, o corriqueiro, o barroco, os sentimentos de um pobre homem rico de ideais.
Isso tudo é tão ridículo...
Mas sou e vou além deles,
sou um terceiro ser que se aprofunda no mais profundo desconhecido,
nem os reconheço e todas as estradas são desconhecidas,
ninguém as sentem e vêem.
Por isso as ânsias, os vômitos e as dores,
vivo e revivo todos os dias a minha própria morte.
A morte de um morto que vive num ciclo mortal e eterno,
que ressuscita do sono logo após dormi-lo,
com as certezas e as feridas do inferno e do céu cravado em sua tez.
Então me banho de leite, de seivas de flores, de bálsamos e cheiros
e todas as feridas cicatrizam,
mas quando me seco todas as chagas retornam,
como se usasse maquiagem no rosto de idosos.
Não há remédio para uma doença ignorada, desconhecida e rara,
a única receita está em Orun
e os deuses esqueceram dos humanos.
Reinaldo Sousa. 12 de junho de 2012
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