sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

FESTA EM FAMILIA, por reinaldo sousa


Festa em família

Não sei como começar. Não sou bom em contar, desenhar ou escrever. Mas sinto em mim e, é maior do que eu, falar sobre essas coisas. Tenho ânsia de contar, como tenho desespero de fugir desse lugar.
Eu sempre acreditei em família, via nas festas de finais de ano, minha inveja declarada ao mundo. Infeliz, eu sempre me achava. O natal era para mim a grande festa, o nascimento de uma comemoração sem significados, mas com esperança de família reunida e risadas ecoando pela sala. Era meu único sonho. As crianças sonham demais, e guardam seus sonhos, eles atravessam os tempos e elas não sentem. Talvez, tenha sido assim comigo.
Eu estava na sala, e por um momento ouvir uns sons, corri. Fui até a porta, e abri-la como se disso dependesse a minha vida. Para minha surpresa, minha tia que mora em frente recebia algumas visitas. Não tive reação, fiquei parado na porta, olhando a casa dela. Mas depois como uma avalanche de pensamentos, indaguei “como pode?”. Minha tia é uma cobra, daquelas que picam, sem fazer cerimônia, e se fazem de santa nos bancos dos santos. Enquanto minha mãe era uma pessoa boa. Eu necessitava de muitas respostas, mas quem me daria?
Então, continuei olhando para casa de minha amada tia, numa mistura de sentimentos de criança, que o papai noel não visitou a chaminé, e tive ainda o prazer dela me notar, e então sem formalidade alguma, olhou nos meus olhos e cerrou a porta na minha cara.
Mesa posta, comida diversificada, minha mãe no fogão, quase meia noite. Chegava o momento, e a campainha não tocava. Meus sentidos andavam pela sala adornada, com luzes e muito verde. Adoro verde. O verde com certeza é a cor, que predomina no meu guarda roupa e nas florestas, representa a vida e segundo alguns a esperança. Eu não me lembro de ter visto outra cor naquela sala, e até as luzes surgiam com tons do mesmo verdejado que vem dos enfeites. Lembro-me também de não tirar os olhos da porta, a quaisquer momentos poderia adentrar a minha esperança, foi o que imaginei. Minha mãe, por vezes chegava até a sala, colocava algo na mesa e voltava calada a cozinha.
Eu não sei como, mas eu tinha certeza que aquele natal seria o melhor de minha vida. Então respirei fundo e voltei a olhar para os enfeites.

Reinaldo Sousa. 17 de janeiro de 2009.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Espelhos e sonhos

Eu queria ver além dos espelhos.
E acreditar que as sombras escuras,
Que vem do meu olhar,
Não são minhas,
São os meus sentidos que estão confusos.

Eu queria acreditar que a pobreza me redime,
Redime da fome, dos meus pecados, dos meus anseios.
Que ela me levará ao céu.

Eu queria enxergar como os bons,
Esperança na minha miséria,
Vida no meu tédio,
Amigos fieis e verdadeiros,
E dias felizes em família.

Eu quero acreditar em sonhos.
Sonhos de não ter pesadelos.
Que ao acordar, tudo tenha acabado.

Reinaldo Sousa. 17 de janeiro de 2009.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Por Reinaldo Sousa


Dia de Pensar

Era quase noite. E como aqueles dias depois de um longo verão, o céu estava escuro e mau se via gente. Chovia. Água caia do céu como nunca vi dantes, e meus olhos percorriam fora da janela procurando algo. Aquele dia não terminaria tão cedo, foi o que pensei. Depois andei pela sala pensando em varias coisas, nada que seja significante para contar. É sempre assim. Não penso em nada que se vale à pena pensar, quanto mais comentar. Vivo nuns momentos ocos, falsos e sempre vazios. Logo cansei de pensar. Sentei-me na poltrona, olhei para o telefone e rapidamente, como uma bala, lembrei-me de algo de relevante para se pensar. Nela. Sempre achei que sonhar acordado é o melhor a fazer, do que dormir sonhando. Então pensei na sua boca, linda boca negra, lábios grossos, olhos negros, face altiva, uma deusa. Sempre sonhei com minha boca colada naqueles lábios, numa tarde como aquela. Sonhava, sentia e pensava como os donzelos, e suas ânsias. Todos nos já fomos virgens um dia, mas agora rimos deles. Isso é a vida. Mas continuando, poderia até ouvir nos sons da chuva sua voz, voz de menina, que não é moça. Não me refiro a castidade, mas a uma infanta que é mulher, cheira a mulher. Eu bem conheço esse cheiro em seus cabelos, que sempre sentir sem ela notar. Um cheiro de terra molhada, terra invadida. Fazia-me bem sonhar com aquele cheiro, mas até do que imaginar telefonar. Num ímpeto, tirei a minha roupa. Os homens se vestem para cobrir a sua vergonha, usam camisas para cobrir seu caráter, as calças para cobrir as sujeiras, e cueca para cobrir sua fragilidade. Eu como sou um homem comum, tentei despir-me. E o consegui. Não me importava com o frio, ele me parecia à pele dela. E numa mistura que nunca sentir de calor e frio, minhas mãos percorriam meu corpo, como se tocassem o dela. Fui ao pescoço, nos peitos, no umbigo, dentro das pernas e parei. Poderia ficar ali a minha vida toda. A chuva parou. Os sentimentos e as emoções esvaíram-se com as gotas. Logo eu estava oco, e pude ver o verão. O dia terminou cedo.

Dedico esse conto a meu amigo DIEGO PINHEIRO, que me despertou, para escrever além de poemas, muitas outras coisas.


Reinaldo Sousa. 17 de janeiro de 2009.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Às vezes
me pego olhando pro nada.
E enxergando através dele a minha alma calada.

Perturbada.

E além das nevoas
fechadas de silencio e dor.
Enlameada de sono, embriaguez fingida de calor.

Oco.

O encoberto
por chocolate em sua essência,
Com gestos vazios e sem direção, a demência.

Nada.

Vivendo
ser aquele que os olhos fecham e reabrem os mundos estranhos.
Pensando viagens para musicas tristes e sombrias, os sonhos.

Pensador.

Às vezes
me pego na tentativa de fuga.
Imaginando que há vida, mas caio num equívoco.

Mortal.

Reinaldo Sousa. 10 de janeiro de 2009.

Momentos

Há momentos que ressuscitar-me seria crucial
Há momentos que matar-me seria o ideal.
Há momentos que calar-me seria banal.

Há momentos que fugir seria o inferno.
Há momentos que escapar seria talvez no inverno.
Há momentos de fuga, de tristeza e de felicidade.
Há momentos de silencio, de inexistência e de maldade.

Há momentos de escrever, apagar o que escrever e reescrever o apagado.
Há momento de ler, fingir que lê, e realmente ler o ignorado.
Há momentos de amar, de odiar, de amar novamente, e odiar o passado.

Há momentos que poetizar, despoetiza a alma, poetizando o espírito.
Há momentos que poetizando o espírito, tornamos humanos, no ímpeto.
Há momentos que demasiado, sentimos, choramos, oramos e calamos.

Há momentos que eu preciso escrever.

Reinaldo Sousa. 09 de janeiro de 2009.

Sou eu

Sou eu o mar, o sol, o ocaso.
Sou a luz, o vazio, o descaso.
Sou o Egito, a tumba, o faraó.
Sou o cansado, o deprimido, o sem farol.

Eu filho do velho, do sol, do mar, da brisa.
Sou o jogado no calor, na grandeza, numa ilha.
Sou o sobrepujado, o esgotado, o mendigo, o calado.
Eu filho do desgosto, da lamuria, e do desgraçado.

Sou eu o vento que sopra o mar.
Sou eu o vento que sopra.
Sou eu o vento.
Sou eu.

Salvador, 1 de janeiro de 2009.

Reinaldo Sousa, uma homenagem ao Ano Velho.