A vida é sem dúvida uma odisseia, não aquela de Odisseu, mas aquela de Hércules e suas tarefas, e no meu caso a deusa Atenas, antes defensora do herói, torna-se umas das minhas inimigas. Não tenho aliados, nem defensores e nem amigos. Viver é uma tarefa árdua, para quem nasceu sem direitos, mas com varias obrigações, e conhecendo que as obrigações são de fato algo imutável. E são. Eu sou o herói? Uma vez, participando de uma oficina de teatro, um diretor teatral (Ronaldo Braga), perguntou-me: "O que te motiva a não se matar quando você acorda pela manhã?" Confesso que até hoje, nessa data em que completo mais um ano de "não-vida", ainda não sei a resposta dessa pergunta. Não é possível que alguém saiba. Não há motivos. Vivemos na esperança de não acordar no amanhã, mas nossa esperança termina na manhã e renasce ao anoitecer. Somos covardes, por isso não nos matamos. Eu sou um covarde por isso deixo a vida cumprir seu papel, de me mostrar as minhas fragilidades, humilhar-me na prateia de pus e depois extinguir-me.
Irei completar mais alguns anos de "não-vida", receberei presente pela minha existência de amigos e familiares, até mesmo dos meus inimigos. Cada um cumprindo o seu papel social. Que lindo... E ainda receberei durante os anos que se seguem na infecção, um livro, abrirei e declamarei o roteiro do pus nos palcos infectados de bactérias, e depois descerei ao ultimo palco dramático de toda "não-vida", o túmulo. Feliz Aniversário, Reinaldo Sousa. Felicidades, Paz e Sucesso!
Reinaldo Sousa. 24 de maio de 2009.